ALÉM DO FANTÁSTICO EM O MANDARIM DE EÇA DE QUEIRÓS
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Aluno de Iniciação Científica: Fernando Vidal Variani (PIBIC/UFPR-TN)
Curso: Letras - Português (N)
Orientador: Antonio Augusto Nery
Departamento: Lingüística, Letras Clássicas e Vernáculas
Setor: Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes
Área de Conhecimento: 80207006
RESUMO
A imagem mais recorrente associada a Eça de Queirós (1845-1900) é a do maior representante da chamada escola Realista em Portugal. Essa perspectiva nos remete imediatamente a seus romances mais aclamados como O Crime do Padre Amaro (1875) e O Primo Basílio (1878). Todavia, caracterizá-lo exclusivamente desse modo, como algumas leituras críticas produzidas na primeira metade do século XX propuseram, nos levaria a considerar menos relevantes escritos que detêm elementos relacionados à literatura de cunho fantástico, como os primeiros contos reunidos postumamente no volume Prosas Bárbaras (1905) e romances como A Relíquia (1887) e O Mandarim (1880). Nesta pesquisa propomo-nos a averiguar especificamente essa última narrativa, voltando-nos inicialmente para algumas leituras críticas que se dedicaram à obra completa de Eça de Queirós, como os trabalhos empreendidos por Antônio José Saraiva (1917-1993) em As Ideias de Eça de Queirós (1947) e Massaud Moisés (1928-) em A Literatura Portuguesa (1960). Em ambos os estudos é perceptível, quando não a simples ausência de comentários acerca de O Mandarim, a presença de uma perspectiva deliberadamente valorativa, na qual a opção do escritor por utilizar elementos de cunho sobrenatural, leva à rápida conclusão de que se está diante de uma "fábula moralizante", cuja personagem central seria completamente desprovida de complexidade. Entretanto, na contramão desse tipo de análise, encontramos estudos como o ensaio crítico produzido por Óscar Lopes (1917-2013) em Álbum de Família (1984), em que há a proposição de que romances como O Mandarim e A Relíquia estariam ligados não apenas aos primeiros contos do autor, mas seriam essenciais para compreender as demais obras produzidas por Eça após a década de 1880, denominadas por Lopes de "obra global da maturidade" do autor. Nesse sentido, aproximando-nos de artigos como O Mandarim: uma fábula pré-figuradora da globalização? (2001) de Gilda Santos e da investigação acerca do paradoxo do mandarim assassinado empreendida por Antonio Coimbra Martins em seus Ensaios Queirozianos (1967), buscaremos apontar novas possibilidades de se compreender o modo como Eça de Queirós, em O Mandarim, não apenas lida com um problema filosófico-moral que remonta a uma longa tradição no pensamento ocidental, mas também se mostra indiscutivelmente atento às transformações ocorridas ao longo do século XIX, em Portugal e no cenário sócio-econômico-cultural globalizado que começava a se consolidar, especialmente a partir de países como a Inglaterra.
Palavras-chave: Eça de Queirós, Literatura Portuguesa, Literatura Fantástica