A CRÍTICA ANTICLERICAL EM A BRUXA DE MONTE CORDOVA (CAMILO CASTELO BRANCO) E SUA IMPLICAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO DE UMA ESTÉTICA HÍBRIDA NA NARRATIVA
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Aluno de Iniciação Científica: Caroline Aparecida de Vargas (IC-Voluntária)
Curso: Letras - Português (N)
Orientador: Antonio Augusto Nery
Departamento: Lingüística, Letras Clássicas e Vernáculas
Setor: Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes
Área de Conhecimento: 80207006
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar como é organizada a crítica anticlerical em A Bruxa de Monte Cordova (1867), de Camilo Castelo Branco (1825-1890), além de buscar compreender de que forma tal crítica colabora para o hipotético entrecruzamento de elementos Românticos e Realistas na obra. Para tanto, observamos como Jacinto do Prado Coelho (1920-1984), um dos principais estudiosos da obra camiliana, trata do assunto em sua Introdução ao estudo da novela camiliana (1947), obra crítica fundamental para o entendimento dos escritos de Camilo. Em um primeiro momento, após a leitura A Bruxa de Monte Cordova, identificamos a figuração de dois personagens fundamentais para o funcionamento da crítica anticlerical veiculada na obra: Frei Jacinto de Deus e Frei Silvestre. O primeiro deles, um religioso exemplar, tem seu discurso transgressor aprovado por um narrador que acredita, assim como Jacinto, que a religião pode levar à demência, especialmente se o fiel for adepto efusivo de alguns dogmas católicos e em punições sacrificiais como jejuns e cilícios. Já a segunda personagem, Frei Silvestre, representa justamente a Religião e os religiosos que se quer criticar, pois, além de ser exposto como hipócrita, os fiéis que estão sob sua influência são incitados à penitência exagerada e à vivência de práticas religiosas desumanas que são constantemente reprovadas pela narração. Tal oposição na caracterização dessas duas personagens religiosas conta ao mesmo tempo com a idealização de Jacinto de Deus e a completo rechaço por parte do narrador à figura de Frei Silvestre, o que torna a representação dos dois religiosos um tanto quanto maniqueísta. A crença exposta pelo narrador na superioridade do caráter humano perante títulos ou dinheiro e, ainda, na preponderância do amor em oposição à uniões matrimoniais baseadas em interesse financeiro, dá ao romance um tom romântico. Porém, percebemos ao longo da narrativa, o desejo do narrador em figurar personagens, ambientes e diálogos de forma que estejam colados à realidade apreensível, posição adotada também pelos Realistas. Prado Coelho analisa o romance camiliano de forma rápida, sem problematizar a conjugação de elementos de diferentes concepções estéticas, o que pode confirmar a relevância de nosso estudo, já que A bruxa de Monte Cordova é um romance a que não se dá muita atenção, como prova o estudo do crítico português. O que podemos concluir após nossa pesquisa é que Camilo contribui enormemente para o desenvolvimento do Realismo em Portugal, ao já promover em seus textos uma crítica à sociedade portuguesa.
Palavras-chave: Camilo Castelo Branco, Anticlericalismo, A Bruxa de Monte Cordova