A POESIA DE EUCANAÃ FERRAZ SOB UM OLHAR CABRALINO

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Aluno de Iniciação Científica: João Felipe Gremski (IC-Voluntária)

Curso: Letras - Inglês ou Português com Inglês (M)

Orientador: Waltencir Alves de Oliveira

Departamento: Lingüística, Letras Clássicas e Vernáculas

Setor: Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes

Área de Conhecimento: 80206000


RESUMO

O presente trabalho busca estabelecer uma análise comparativa entre a obra do poeta carioca Eucanaã Ferraz a partir de características atribuídas ao fazer poético de João Cabral de Melo Neto. Para tanto, foi realizada a leitura da obra de Eucanaã Ferraz publicada até o momento e dos principais livros de João Cabral; além disso, fiz a leitura de textos teóricos que pudessem ser pertinentes para a pesquisa. A poesia de João Cabral (1920-1999) é conhecida por apresentar um trabalho lúcido com a linguagem, despojando-se assim daquilo que considera supérfluo, além de possuir uma íntima relação com o visual a partir das imagens que desenvolve. Eucanaã Ferraz é considerado um dos grandes nomes da poesia brasileira contemporânea, sua obra é marcada tanto pela visualidade quanto pela clareza, aspectos que o aproximam de João Cabral, mas com um viés, como o próprio autor definiu, trágico. Busquei comparar duas questões que julguei interessantes entre os dois poetas; a primeira delas diz respeito ao termo "desagregação da metáfora", considerado pelo crítico Benedito Nunes como uma das características da poética cabralina. Esse processo de desagregação consiste em uma arborescência de imagens a partir de um símile inicial; cada um desses símiles pode ser decomposto em outros, tanto no sentido de adicionar imagens ao poema, como para esvaziá-lo. Busquei a presença desse procedimento na poesia de Eucanaã Ferraz e pude encontrar, embora de maneira mais discreta, esse processo ao longo de toda sua obra poética. O segundo aspecto que tratei tem relação com a análise que Nunes faz a respeito da experiência interior subjetiva. Nunes argumenta que, no caso de João Cabral, essa experiência torna-se matéria residual morta quando transpassada para o papel. A partir dessa constatação, decidi verificar se isso ocorre na poesia de Eucanaã Ferraz e pude atestar que a experiência interior é mantida em praticamente toda a sua obra; o "eu" poético de Eucanaã tende a manter aquilo que foi exteriorizado e, em alguns momentos, até mesmo reforça a necessidade desse lado abstrato e íntimo não só na poesia, mas também no mundo à sua volta. Ao fazer isso, o sujeito poético atua com uma voz pessoal e, embora sob controle da sua matéria escrita, sentimental.

Palavras-chave: Eucanaã Ferraz e João Cabral de Melo Neto, Desagregação da Metáfora, Experiência Interior Subjetiva