RESUMO

A área de estudos linguísticos a que chamamos de Semântica é, na verdade, constituída de várias "semânticas". Podemos observar algumas questões que são comuns a todas elas: a discussão em torno das noções de causa, volição e agentividade. Os estudos que se desenvolvem em torno dessas questões carecem muitas vezes de definições mais precisas sobre o estado da arte de tais conceitos, o que acaba por empecer a pesquisa. Essa problematização das noções é decorrente justamente do excesso de teorias que buscam uma resposta pontual para os fenômenos. Assim, sabendo do problema recorrente na área, o presente trabalho objetiva organizar um pouco o estado da arte da noção de "causa", a qual implica em um estudo sobre noções como volição e agentividade, para então demonstrar como esse fenômeno é estruturado na língua, em especial, para demonstrar quais são os fatores restritivos das estruturas causativas no PB. Para tanto, são analisadas teorias sobre causação que têm sua base fundamentada na semântica cognitiva e na semântica formal (DOWTY, 1973; LEVIN; RAPPAPORT HOVAV, 2005; JACKENDOFF, 1983; ROTHSTEIN, 2004; TALMY, 2000). Após um estudo cronológico da causa em cada uma das áreas, pretende-se demonstrar como ocorre a estruturação do fenômeno: a causa é um primitivo ontológico (uma função) que possui estruturação linguística a partir da distribuição da atenção (TALMY, 2000). Alguns primitivos semânticos, como ACTION e EVENT, são selecionados e funcionam como restritores de configuração sintática. Como o trabalho pretende demonstrar quais são as restrições causativas para o PB, são analisados dados de fala de 40 crianças entre 3 e 5 anos, obtidos através de testagem experimental de produção eliciada (CRAIN; THORNTHON, 1998), em uma escola da rede municipal de Curitiba. A testagem consistiu na apresentação de três vídeos com situações causais típicas: quebrar um carrinho, construir um boneco e fazê-lo andar. Apresentamos o vídeo às crianças e ao final de cada cena fazíamos uma pergunta focalizando o objeto afetado, como "o que aconteceu com o carrinho" ou "o que aconteceu com o boneco". Através dos dados obtidos podemos levantar uma discussão sobre a causa e sobre os papéis de volição e agentividade envolvidos, além de observarmos as restrições na configuração da causação, demonstrando ao final uma formalização para as estruturas causativas no PB a partir da teoria de Rothstein (2004).

Palavras-chave: Causa, Semântica, Aquisição da Linguagem