DISCURSOS DE JAVÉ: A MEMÓRIA, OS SUJEITOS E A ESCRITA-ORALIDADE NA CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA

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Aluno de Iniciação Científica: Mariana Sato de Oliveira (PIBIC/CNPq)

Curso: Letras - Port/Alem/Ital/Grego ou Latim (M)

Orientador: Gesualda de Lourdes dos Santos Rasia

Departamento: Lingüística, Letras Clássicas e Vernáculas

Setor: Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes

Área de Conhecimento: 80100007


RESUMO

Tendo como fundamento a teoria da Análise de Discurso pecheutiana, este trabalho realizou a análise de narrativas que compõem o longa-metragem Narradores de Javé, de Eliane Caffé, com o objetivo de compreender que imaginários de escrita e de história constituem os discursos desses personagens. O Vale de Javé ficará submerso devido à construção da barragem de uma usina hidrelétrica. Os moradores decidem "desencavar da cabeça os acontecimentos de valor", para oficializar em livro a "história grande de Javé", prova de que o vale "tem patrimônio" e, portanto, deve ser tombado e protegido do avanço das águas. É da escritura dessa história que se desenvolve o enredo. Transformar em livro a história do vale, no entanto, mostra-se tarefa complicada. Até então apenas contadas, as histórias de Javé são várias e nem sempre condizem umas com as outras. Foram analisadas três delas (a de Vicentino, a de Deodora e a de Firmino), as de maior destaque, enquanto discursos da oralidade que se estabelecem em jogo com o discurso da ciência e da escrita. Sujeitos inseridos numa cultura de oralidade, eles são postos em conflito com uma cultura escrita, por pressões sócio-econômicas. As narrativas de Vicentino e Deodora, apesar de privilegiarem personagens diferentes, têm a mesma estrutura: narram em um tom enaltecedor os feitos dos heróis que teriam fundado o Vale de Javé. A de Firmino é diferente. Já no começo, as palavras dele produzem um efeito de desconstrução daquela imagem do Indalécio-herói, através do humor. Ora, há histórias de exaltação nacional, de construção de heróis, de valorização de uma elite que seguem os moldes da história tradicional. Há aproximações com as narrativas míticas. Há as sátiras, de crítica social ou de questionamento do próprio fazer histórico e do status quo estabelecido em relação às histórias de vida dos moradores de Javé. Constituída pela diversidade, a tradição oral de Javé não cabe em livro. Para eles, a ciência é necessariamente homogênea. Nesta tentativa de produzir ciência-histórica, percebemos a relevância da memória coletiva na construção da história e da identidade dessa gente. Por essa razão, o estudo foca também a noção de memória discursiva. Considerando como essa memória se relaciona às condições de produção dos discursos desses sujeitos, compreendemos que todo esse jogo de forças influencia na construção dos sentidos dos discursos de Javé. Estão na materialidade textual e linguística das narrativas do vale as marcas de um embate entre oralidade e escrita, tradição e ciência, valor histórico-social e valor econômico.

Palavras-chave: Análise do Discurso, Linguagem, Memória