RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi promover um diálogo entre o trabalho desenvolvido pela psiquiatra brasileira Nise da Silveira (1905-1999) e a psicologia fenomenológico-existencial, traçando possíveis proximidades e divergências. Este estudo justifica-se pela escassez de material acerca do trabalho da psiquiatra, mesmo ela sendo considerada pioneira no campo da saúde mental no Brasil. Além disso, observa-se que embora Nise da Silveira não tenha se envolvido com os autores da psicologia-fenomenológico-existencial e que não há pesquisas que se proponham a estabelecer um diálogo entre Nise da Silveira e esta orientação teórica, seu trabalho, a concepção de sujeito e sua postura frente aos pacientes encontram eco em alguns pressupostos desta abordagem. Este é um estudo bibliográfico-qualitativo, no qual foi realizada revisão de literatura nas bases de dados SCIELO, PePSIC e LILACS com os indexadores nise e silveira, além da análise de bibliografias primárias e secundárias de Nise da Silveira e da psicologia fenomenológico-existencial. Observam-se poucas bibliografias primárias e secundárias sobre a psiquiatra. Suas obras, de difícil acesso, apresentam um enfoque eminentemente prático, que delineia contornos teóricos de seu trabalho. Grande parte do material bibliográfico disponível reflete sobre a prática pioneira de Nise da Silveira com os esquizofrênicos na Seção de Terapêutica Ocupacional, no hospital de Engenho de Dentro, no Museu Imagens do Inconsciente e na Casa das Palmeiras e a reconhece como uma das precursoras do movimento da antipsiquiatria no Brasil. Nise da Silveira também é recorrentemente citada como referência no desenvolvimento da psicologia analítica de C.G.Jung no país. Por meio da análise das bibliografias primárias e secundárias, observa-se que Nise da Silveira valorizava a prática, em contraposição à teoria. Para a psiquiatra, a teoria não deveria anteceder a observação do sujeito em seu contexto, de modo que seja possível enxergar o sujeito que se apresenta, para além de sua psicopatologia. Além disso, Nise da Silveira observou a potencialidade terapêutica do trabalho com animais e a importância da empatia na relação terapêutica. Nesse sentido, observa-se que Nise da Silveira adota uma posição muito próxima de conceitos adotados pela perspectiva existencial – como a relação Eu-Tu – com seus pacientes esquizofrênicos e compreende a esquizofrenia como um dos modos possíveis de ser no mundo. Mesmo não utilizando conceitos da psicologia fenomenológico-existencial, observa-se que a prática de Nise da Silveira dialoga com esta abordagem.

Palavras-chave: Nise da Silveira, Psicologia Fenomenológico-Existencial, História da Psicologia