RESUMO

Essa pesquisa analisa 25 artigos produzidos pelo educador Anísio Teixeira, para o jornal Folha de São Paulo, no período entre junho e dezembro de 1968. Por meio da Sociologia das Ideias, busca-se contribuir para o debate a respeito das relações entre a "Escola Nova" e o projeto educacional da ditadura militar. Afinal, boa parte da literatura, ao ignorar a multiplicidade de autores encaixados nessa categoria de "escolanovistas", tem defendido que tanto estes como os "tecnicistas" do regime militar, partilharam de uma mesma "ideologia liberal". A intenção é relativizar essa relação, por meio da exposição e análise do pensamento e do projeto educacional de Anísio Teixeira durante esse período. Elegeu-se esse intelectual baiano principalmente devido ao seu destaque para o "movimento renovador", a sua importância institucional no país e, em especial, ao fato de ele ter sido morto pela ditadura. Nesse sentido, compreender sua visão de mundo ao mesmo tempo em que permite complexificar categorias como "liberal" e "escola nova" permitirá destacar diferenças suas em relação ao projeto educacional da ditadura e esclarecer o que, em suas ideias, "incomodou" os militares. A partir das relações que o autor estabelece entre educação e mudança social, testo a hipótese de que a grande diferença entre seu projeto educacional e o dos militares a despeito de ambos partilharem de ideais de sociedade provenientes de filosofias e práticas norte-americanas reside nas ressignificações geradas a partir daí, sobretudo porque autores distintos foram apropriados por sujeitos diferentes. Com efeito, parece-me que a atuação política dos militares se traduziu numa mescla entre o "americanismo" e o "iberismo" (na acepção de Luiz Werneck Vianna); enquanto que, no caso de Anísio Teixeira, o seu "americanismo" se revela uma apropriação radical do pragmatismo de John Dewey como projeto de sociedade.

Palavras-chave: Educação, Anísio Teixeira, Ditadura Militar