EFEITOS NA SAÚDE DA POPULAÇÃO EXPOSTA CRONICAMENTE A AGROTÓXICOS NO MUNICÍPIO DE RIO AZUL-PR.

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Aluno de Iniciação Científica: Jairo Vinícius Merege de Mello Cruz Pinto (IC-Voluntária)

Curso: Medicina (MT)

Orientador: Guilherme Souza Cavalcanti de Albuquerque

Co-Orientador: Paulo de Oliveira Perna

Colaborador: Fernanda Feuerharmel Soares da Silva,

Departamento: Saúde Comunitária

Setor: Setor de Ciências da SaúdeLuisa Preisler

Área de Conhecimento: 40600009


RESUMO

O município paranaense de Rio Azul é o maior produtor estadual de fumo, cultivo familiar caracterizado pelo uso de grandes quantidades de agrotóxicos. O objetivo foi avaliar, através de pesquisa transversal, as condições de trabalho e saúde de 40 famílias de fumicultores com notificação no SUS devido a intoxicação aguda por agrotóxicos. Foi aplicado um protocolo de avaliação caracterizando a exposição e as condições de trabalho; ficha de avaliação clínica com anamnese, exame físico geral e neurológico e o SRQ-20 da Organização Mundial da Saúde; além de exames laboratoriais e avaliação audiológica com audiometria tonal limiar. Como resultado, foram avaliados 46 trabalhadores (21 do sexo feminino e 25 do masculino), sendo a média de idade 39,43 anos. Do total, 80,4% dos trabalhadores estavam expostos a agrotóxicos por 10 anos ou mais, 95,6% foram expostos a múltiplos agrotóxicos e 20 deles tinham exposição cutânea e respiratória. Quanto aos diagnósticos, 19 receberam de transtorno neuropsiquiátrico associado à exposição crônica a agrotóxicos, 2 receberam o de neuropatia retardada induzida por organofosforado (NRIOP) e 2 o de perda auditiva neurossensorial por exposição a agrotóxicos. Um total de 7 pacientes apresentavam elevação de enzimas hepáticas e 4 com aumento de bilirrubina total, à custa de bilirrubina indireta. Todos os pacientes apresentaram valores normais de enzimas colinesterase eritrocitária e plasmática. Os efeitos causados pela exposição crônica a múltiplos agrotóxicos são vários, partindo desde alterações de marcadores séricos sem quaisquer manifestações clínicas até quadros sintomas no sistema nervoso, causando alterações mentais, motoras e sensitivas. Nossos resultados vão de encontro aos da literatura, evidenciando grande número de pacientes com transtornos psiquiátricos. Os achados de NRIOP são também condizentes com a literatura, que aponta algo em torno de 10% em cronicamente expostos aos venenos. A perda auditiva neurossensorial causada por agrotóxicos é uma entidade clínica pouco relatada na literatura. Quanto aos exames laboratoriais, vale ressaltar que a elevação de enzimas hepáticas se deu em pacientes que não apresentavam história prévia ou atual de etilismo. A nossa pesquisa vem para denunciar as condições de vida e trabalho de uma população esquecida pelo estado e à mercê das transnacionais fumageiras. Pretendemos com esses resultados expor os malefícios que os agrotóxicos causam à vida humana e que sejam usados de base para que populações expostas se organizem e lutem por condições dignas de trabalho e saúde.

Palavras-chave: Agrotóxico, Fumicultura, Neuropsiquiátricos