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Título
PROCESSO DE TRABALHO NA RESIDÊNCIA MÉDICA: EXPLORAÇÃO E APRENDIZAGEM

Aluno: Maíza Vaz Tostes - Curso de Medicina (MT) - Orientador: Guilherme Souza Cavalcanti de Albuquerque - Departamento de Saúde Comunitária - Área de conhecimento: 40600009 - Palavras-chave: residência médica; processo de trabalho; exploração - Colaborador: Thadeu Rocha da Costa.

O sofrimento dos médicos-residentes causado pelas condições de trabalho é fartamente descrito na literatura. As condições, muitas vezes inaceitáveis, impostas a este tipo de trabalhador, além de objeto de produções científicas, são de pleno conhecimento dentre aqueles que trabalham na área da saúde e da educação médica. O presente estudo foi realizado com o objetivo de descrever os principais aspectos destas condições em dois hospitais públicos de Curitiba e refletir sobre os motivos e mecanismos da reprodução da maioria delas. Realizou-se um estudo transversal a partir da aplicação de um questionário, para a explicitação dos processos críticos protetores e destrutivos da saúde dos médicos-residentes. Dos 100 médicos-residentes do 1º ano, em atividade nos hospitais estudados, 58 participaram da pesquisa. Os resultados demonstram elevada jornada de trabalho semanal. Mais de dois terços dos residentes cumprem mais do que as 60 horas semanais estabelecidas na legislação, sendo que 50% do total, entre 80 e 100 horas. Quase 30% relatam que já trabalharam de 110 a 140 horas em uma semana. Quanto ao número máximo de horas contínuas de trabalho, 43,1% dos residentes responderam que já trabalharam 36 horas, 6 residentes permaneceram 48h, 3 permaneceram 60h e 2 permaneceram até 72h. Com relação ao amparo do preceptor para a tomada de decisões, 58,4% dos residentes da Clínica Médica responderam sentir-se sempre ou quase sempre desamparados, da mesma forma que 40% da Cirurgia Geral, 33,3% da Ginecologia e Obstetrícia e 8% da Pediatria. Há elevada prevalência de sofrimento, seja pelas situações de sofrimento do paciente, de incerteza quanto à conduta médica, de culpa por não estudar o suficiente, ou de perceber, posteriormente, que a decisão tomada foi inapropriada para o cuidado do paciente. Quase a totalidade dos residentes não adota hábitos saudáveis quanto à alimentação, sono, exercícios físicos. Todos os aspectos negativos para a saúde dos médicos residentes aqui encontrados apresentam correlação positiva com a jornada de trabalho. Conclui-se que o processo de trabalho caracteriza-se pela subordinação do ensino-aprendizagem à exploração da força de trabalho dos residentes, constituindo-se mais como processo destrutivo do que protetor de sua saúde.