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Título
RELIGIÃO E PODER EM MONTEDEMO (HÉLIA CORREIA)
Aluno: Keize Amaral da Silva - PIBIC/CNPq - Curso de Letras - Inglês ou Português com Inglês (M) - Orientador: Antonio Augusto Nery - Departamento de Linguística, Letras Clássicas e Vernáculas - Área de conhecimento: 80207006 - Palavras-chave: poder; religião; montedemo.
O presente estudo pretende averiguar em que medida os preceitos religiosos e os discursos veiculados pelas personagens femininas da obra Montedemo (1983), de Hélia Correia (1949), difundem uma perspectiva religiosa pouco convencional e altamente questionadora com relação às estruturas de poder tradicionalmente instituídas. Por meio dos discursos das personagens, que se encontram expostas a fenômenos sobrenaturais, questiona-se um discurso de poder hegemônico, veiculado em primeiro plano pela Instituição religiosa, mas que se percebe conectado a outras instâncias de poder. Para tanto, a metodologia empregada teve como base a leitura e a análise da obra ficcional selecionada à luz das reflexões teóricas propostas por Michel Foucault (1926 - 1984), na obra Microfísica do poder (1996), acerca do poder e de sua influência na sociedade. Foucault busca compreender de que maneira as esferas de poder se instituiriam no meio social, interferindo na interação entre os indivíduos, como no caso das relações políticas, entre gêneros e dominante e dominado. Nota-se o interesse do filósofo em propor a ideia de que as relações de poder observadas em uma sociedade se desenvolvem a partir de micro-sociedades que se estabeleceriam no desenvolvimento das macro-sociedades. Foucault também analisa como as instâncias de poder se manifestam através das Instituições, especificamente as que têm o governo estabelecido de maneira concentrada, como o Estado e a Igreja (especialmente a Católica). Buscou-se analisar Montedemo tendo como eixo central a averiguação da maneira como se constrói o questionamento e a desconstrução de discursos relacionados à sexualidade, à moral, à cultura, ao sistema patriarcal e, sobretudo, à imagem da mulher na sociedade. Ao término da pesquisa, notou-se que ao propor personagens femininas controversas, que questionam e problematizam discursos de poder opressores, Hélia Correia explicita o modo como uma micro-sociedade presencia a transição do modo como tradicionalmente se concebia o gênero feminino, para uma nova posição social da mulher na sociedade, sem a utilização de filtros morais.