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Título
EM BUSCA DE NOVOS BRASIS EM ANGOLA: PORTUGUESES QUIMÉRICOS E AUTORIDADES AFRICANAS NOS ANNAES DO CONSELHO ULTRAMARINO, 1854-1867

Aluno: Felipe Pires Vilas Bôas - Pesquisa voluntária - Curso de História - Bacharelado (N) - Orientador: Carlos Alberto Medeiros Lima - Departamento de História - Área de conhecimento: 70503001 - Palavras-chave: annaes do conselho ultramarino; centralização política; posturas coloniais.

Os anos de 1830 marcam um período de mudanças na política portuguesa em âmbito metropolitano e ultramarino, que reverberariam em Angola até a década de 1870. São nestes mesmos anos de 1830 que em Angola cai por terra o monopólio da coroa sobre os negócios da cera e marfim, que a escravidão como estatuto jurídico deixa de existir e passa-se ao paulatino incentivo do trato agrícola, seja de culturas exportadas ou endógenas. Tais mudanças advinham de um novo olhar sobre as estruturas político-econômicas do reino após a perda do Brasil e a vitoria dos liberais em Portugal. Nesta conjuntura de mudanças e reajustamentos econômicos surgiram nas décadas seguintes em Portugal diversas publicações de caráter pró-África, que não poupavam tinta na esperança de transformar as possessões africanas em novos baluartes para compensar a tão cara perda das terras americanas e aliviar os custos das terras em África. Uma das publicações vigentes foi o Annaes do Conselho Ultramarino (parte não official), que como o próprio nome refere, era a publicação informal do na altura denominado Ministério da Marinha e Ultramar. Na publicação ministerial entre 1854 e 1867, fervilham relatos, relatórios e dados, sejam sobre as possessões ultramarinas ou sobre exemplos coloniais franceses e britânicos em África e Ásia. Observa-se no material referente a Angola elementos que permitem aferir certas mudanças na estrutura da região - seja nas posses portuguesas ou ainda nas de domínio dos chefes locais. O discurso versado sobre Angola na documentação evidência um momento de maior proximidade entre portugueses e as autoridades africanas, de um crivo marcado na agricultura como elemento civilizacional, de um discurso histórico sobre a Angola portuguesa e o estado da sua presença e um incomodo silêncio sobre escravidão, tráfico de escravos e intermediários comerciais. Outro ponto é que a documentação permite uma visão um tanto quanto fosca das posturas assumidas pelas autoridades centrais, nomeadamente os Sobas de origem Mbundu. Posto isto, cabe mapear com maior rigor as novas formas de relacionamento entre estes e buscar compreender o que isto significou na prática. Seria possível apontar uma centralização política por parte das autoridades centrais Mbundu? Qual a função das rotas comerciais? O que era ser uma autoridade africana "avassalada"? Por que a ênfase discursiva na agricultura? E, finalmente, quais as intenções das novas abordagens? O objetivo, portanto, figura na compreensão do estabelecimento de posturas coloniais em Angola e da participação e dos agentes envolvidos.