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Título
MIA COUTO: PENSANDO A NAÇÃO E O SUJEITO NA OBRA UM RIO CHAMADO TEMPO, UMA CASA CHAMADA TERRA

Aluno: Fabiane Miriam Furquim - Pesquisa voluntária - Curso de História (T) - Orientador: Hector Hernandez Guerra - Departamento de História - Área de conhecimento: 70500002 - Palavras-chave: moçambique; nação; mia couto.

O presente trabalho busca analisar a relação da obra "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra" [2003] de Mia Couto com os processos de desenvolvimento da nação Moçambicana após a guerra civil que assolou o país entre os anos de 1977 e 1992. Visamos tentar entender como se constitui a nação num país de diversidades étnicas, onde existe uma população que por muitas vezes não se identifica com a representação de uma identidade moçambicana propriamente dita, apesar dos esforços do Estado regido pela FRELIMO em delinear estes homens. A obra de Mia Couto está repleta de aspectos que ilustram estes conflitos e será analisada para além do seu gênero literário, considerando os aspectos históricos e sociológicos presentes e compreendendo-os na conjuntura em que a obra foi escrita. O nome da casa onde se passa a maior parte do enredo chama-se Nyumba-Kaya e significa "casa" em seus dois termos, o primeiro (Nyumba) sendo reconhecido nas línguas faladas no norte do país e o segundo (Kaya) nos idiomas do sul. A partir do posto observa-se que ela é a representação do próprio país Moçambique, e do encontro dos diversos sujeitos que ocupam a sociedade, que é composta por diversas etnias. Nela, os Marianos, (família a qual pertencem as personagens) irão vivenciar a cerimônia fúnebre do avô morto vivo, que está repleta de mistérios e conflitos entre as gerações. Em cada personagem é possível perceber os diferentes sujeitos que compõem a maneira como o autor enxerga a nação moçambicana, numa analogia de certa forma idealizada. Nesse sentido, iremos permear os discursos sobre estes sujeitos a partir de perspectivas e olhares diversos, perpassando por teóricos africanistas de diferentes nacionalidades como Christian Geffray, Lorenzo Macagno, Stephen Lubkemann e outros. A figura do próprio Mia Couto também será analisada historicamente, visto que a sua escrita está imbricada com o seu posicionamento político. O lugar que este ocupa na sociedade, sendo ele um homem branco, de descendência direta portuguesa, e que assume a nacionalidade moçambicana lutando juntamente com a FRELIMO no decorrer dos conflitos da guerra civil contra a RENAMO, nos leva a uma análise essencial para visualizar as suas impressões pessoais na obra. Assim, procuraremos compreender através dessa obra literária a complexa composição da nação moçambicana.