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Título
ALEGORIA E IRONIA NO CINEMA MODERNO: METÁFORAS DE SOCIEDADE NOS FILMES ALPHAVILLE E O BANDIDO DA LUZ VERMELHA

Aluno: Eder Puchalski - PIBIC/Fundação Araucária - Curso de História - Bacharelado (N) - Orientador: Pedro Plaza Pinto - Departamento de História - Área de conhecimento: 70503001 - Palavras-chave: cinema moderno; estudos de alegoria; análise fílmica.

O objetivo deste trabalho é estudar, através de análise fílmica, os elementos que compoem mensagens referentes às respectivas sociedades representadas, detendo-se sobre a produção das metáforas do discurso. As opções estéticas são exploradas como escolhas que traduzem novos projetos do cinema moderno. Para cumprir com tais objetivos buscou-se, primeiramente, conceituar alegoria e pensar as modernidades no cinema. Em seguida, buscou-se compreender as conjunturas políticas e culturais, para então elaborar o sentido das escolhas e posições, dos temas e discussões realizados nos anos 1960 tanto pelo Cinema Marginal de Rogério Sganzerla, em O bandido da luz vermelha (1968), como pelo cinema francês de Jean-Luc Godard, em Alphaville (1965). O conceito de alegoria foi abordado em seus sentidos histórico: viu-se como, no mundo antigo (greco-romano), a alegoria era primordialmente pensada como ornamentação de discursos, como recurso expressivo; passou, então, a significar interpretação do divino, segundo a interpretação dos doutores da Igreja Católica; no Renascimento, vimos a arte devolver à alegoria seu potencial criativo, e ao artista seu potencial criador; com os românticos, foi proposta a diferenciação entre alegoria (analítica) e símbolo (intuitivo). Na arte moderna, a alegoria está associada à ruptura, a sabotagem da transparência pela consciência da própria linguagem, e representa as fraturas e descontinuidades entre a experiência histórica e a expressão formal. A alegoria é um recurso de formalização muito influente na Nouvelle Vague e no Cinema Novo brasileiro. Os jovens críticos da revista Cahiers du Cinema, educados pelos cine-clubes, descontruíram os padrões do cinema clássico e buscaram a rua, a realidade imediata e documental, o acaso e o fragmento. Glauber Rocha, construindo o Cinema Novo no Brasil, aliou à figura do autor (herança da Nouvelle Vague) as características do impulso revolucionário para registrar a consciência do subdesenvolvimento. Ao lado de outros cineastas, debateu através do cinema a problemática da identidade nacional, construindo a “estética da fome”. Após o golpe militar, a falência do projeto que implicava o cineasta como intelectual-militante mudou a perspectiva de representação das artes. Diante do sentimento de impotência, o Cinema Marginal respondeu com ironia absoluta, usou a forma tropicalista da colagem e construiu um novo corpo temático no cinema brasileiro. Os filmes assumem uma estrutura de agressão que trabalha o erro, a violência, a corrosão e a arte da paródia sintetizada pela “estética do lixo”.