A RECONSTRUÇÃO PAGÃ DE RICARDO REIS A PARTIR DA POESIA ROMANA
Aluno de Iniciação Científica: Liana Bisolo Warmling (Pesquisa voluntária)
Curso: Letras - Português
Orientador: Guilherme Gontijo Flores
Departamento: Lingüística, Letras Clássicas e Vernáculas
Setor: Ciências Humanas, Letras e Artes
Palavras-chave: Literatura Comparada , Ricardo Reis , Horácio
Área de Conhecimento: 80210007 - LITERATURA COMPARADA
Este trabalho tem como maior objetivo analisar, a partir do que é proposto no prefácio do livro de Odes pelo heterônimo de Fernando Pessoa, o médico lisboeta Ricardo Reis, a obra do poeta português para rever de que modo é realizada uma suposta tradução e reconstrução do paganismo antigo, sobretudo com base nas Odes do poeta latino Horácio e das correntes filosóficas epicurista e estoica. O resultado dessa nova leitura, com um diferente foco, é a denúncia de um fracasso do gigantesco projeto de Ricardo Reis, na medida em que o poeta-heterônimo se mostra incapaz de fugir realmente da sua modernidade, do mundo que o cerca e da sociedade de sua época. Algo que também faz parte da análise é considerar Ricardo Reis como um personagem criado por Pessoa, e não um alter-ego ou até mesmo como uma persona verdadeira e histórica. Tendo compreendido que Ricardo Reis como criação de outro poeta, fica mais fácil adentrar no mundo pessoano para tentar desvendar qual o objetivo de criar uma persona tão alheia ao próprio mundo e com tanto medo de viver ao máximo sua própria modernidade, refugiando-se, assim, em um mundo supostamente clássico, puro, bucólico, inocente do cristianismo devastador, que é a religião dominante, tanto de Portugal, quanto do Brasil (país em que Ricardo Reis se refugia quando Portugal passa por mudanças sensíveis em sua política). Tal fracasso, no entanto, deve ser visto à luz da obra pessoana como um todo, o que revela nesse mesmo fracasso de Reis o sucesso da poética geral de Fernando Pessoa, não apenas o relacionando com poetas antigos como Horácio, Virgílio, Ovídio, Catulo etc., mas também com outros heterônimos importantes como o "mestre" dos heterônimos Alberto Caeiro, o Barão de Teive e sua "Educação do estoico", Bernardo Soares e, principalmente, o mais histérico de todos, Álvaro de Campos.