EXPERIÊNCIA RURAL E A FORMAÇÃO DO ROMANCE BRASILEIRO: O ESTATUTO DO NARRADOR, OS HOMENS POBRES LIVRES E O PROCESSO DA VIOLÊNCIA

Aluno de Iniciação Científica: Raphael Turra Sprenger (PIBIC/CNPq)
Curso: Letras - Português
Orientador: Fernando Cerisara Gil
Departamento: Lingüística, Letras Clássicas e Vernáculas
Setor: Ciências Humanas, Letras e Artes
Palavras-chave: literatura brasileira , matéria rural , romance
Área de Conhecimento: 80206000 - LITERATURA BRASILEIRA

Este trabalho concentra-se na análise da representação da violência em seis romances rurais da segunda metade do século XIX: O ermitão de Muquém (1858), de Bernardo Guimarães, Inocência (1872), de Alfredo d'Escragnolle Taunay, O sertanejo (1875), de José de Alencar, O cabeleira (1876), de Franklin Távora, A fome (1890), de Rodolfo Teófilo e Dona Guidinha do poço (1892), de Manuel de Oliveira Paiva. Nossa pesquisa procura identificar em tais obras não só a origem, os alvos e as consequências da violência no espaço rural ficcionalizado, mas também, no plano formal, os meios estilísticos e propriamente literários de que o romancista lança mão na tentativa de formalizar a dimensão violenta de tal universo. Pretendemos mostrar que para se comprender os romances rurais dos Oitocentos, devemos considerá-los como etapas necessárias num gradual processo de constituição de uma "tradição de representação do meio rural (não-urbano) brasileiro", onde a violência, paulatinamente, emerge como elemento legítimo, senão primordial, na representação de tal espaço. Pretendemos também apontar de que modo tais obras compõem o momento inicial de um percurso literário que atingirá seu devido amadurecimento somente no século XX: obras como Os sertões (1902), São Bernardo (1934) e Grande sertão: veredas (1956) seriam um ponto de chegada. Assim, acreditamos, há um lento e gradual processo de compreensão da dinâmica do universo rural pelos romancistas brasileiros, não só em relação a uma percepção mais crítica (mais próxima daquilo que Antonio Candido chama de consciência catástrofica de atraso, correspondente à noção de subdesenvolvimento), mas também uma maior qualidade na formalização artística. Como esperamos mostrar, a precariedade formal que muitas vezes caracteriza esses romances do XIX é consequência justamente do fato de tais obras servirem como "laboratório", onde alguns romancistas "aventureiros" começaram a plasmar literariamente um assunto "inédito", cuja manipulação literária é desconhecida e deve ser conquistada aos poucos, num processo que, apesar de gradual, também apresenta retrocessos, que no entanto, são neutralizados in the long run. A hipótese, enfim, que gostaríamos de apresentar, seria: ao longo do tempo, uma tradição do romance rural se firma e, entre outros fatores (como o influxo modernista), tal acumulação literária é uma das condições para o surgimento, no século XX, de obras crítica e esteticamente bem armadas. 

 

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