REPRESENTAÇÕES DE LÍNGUA NA LITERATURA DE CORDEL: ENTRE A ORDEM DA ORALIDADE E DA ESCRITA

Aluno de Iniciação Científica: Mariana Sato de Oliveira (PIBIC/CNPq)
Curso: Letras - Port/Alem/Ital/Grego ou Latim
Orientador: Gesualda de Lourdes dos Santos Rasia
Departamento: Lingüística, Letras Clássicas e Vernáculas
Setor: Ciências Humanas, Letras e Artes
Palavras-chave: análise de discurso , língua , literatura de cordel
Área de Conhecimento: 80101003 - TEORIA E ANÁLISE LINGUÍSTICA

Literatura popular, a poesia de cordel surgiu como escrita do povo, para o povo. As transformações inerentes à História, no entanto, não deixaram a tradição do cordel ilesa. Se, antes, o cordel era vendido em feiras populares, frequentadas por sujeitos que pertenciam ao mesmo lugar social que o cordelista; hoje, quase extinto, o folheto é vendido, principalmente, em lojas voltadas aos turistas e a estudiosos e interessados na conservação da literatura popular nordestina. Há, portanto, uma diferença social entre os interlocutores do cordel. O leitor, que, na origem, era um igual, pertence, agora, a um estrato social mais elevado do que o do poeta. De acordo com a Análise de Discurso pecheutiana, as condições de produção são constitutivas dos efeitos de sentido de um discurso. A transformação da relação poeta-leitor na literatura de cordel, portanto, é transformadora, também, dos efeitos de sentido produzidos pelos poemas, analisados enquanto materializações de um discurso e de uma ideologia. O cordelista, enquanto sujeito de um discurso, não fala só por si, mas, sim, por todo um grupo social, já que só diz através de uma ideologia. Ele escreve a partir de uma posição-sujeito. Neste trabalho, foram analisados cordéis do poeta alagoano Jorge Calheiros, um dos muito poucos que ainda escrevem folhetos no estado. Dentre os cordéis de Calheiros, há narrativas que remetem à História do Nordeste brasileiro, a situações do cotidiano de quem vive uma realidade social difícil, seja no campo ou na cidade, há poemas de humor, de crítica à desigualdade e também poemas didáticos, de conselhos. Todos eles escritos em uma linguagem que é misto de oralidade e recorrentes tentativas de aproximação de uma norma culta, seja por meio de um léxico mais elaborado, seja por hipercorreções. Levando-se em consideração essas marcas linguísticas do texto como, mais do que representativas de uma variante linguística, constitutivas dos efeitos de sentido de um discurso, pretende-se entender como se constitui o sujeito e o imaginário de escrita e do fazer literário do discurso do cordel. Discurso produzido em um lugar marcado pela contradição. Lugar de resistência, já que, frente às mudanças que trouxeram à cidade o povo do campo e, ao campo, a desigualdade da cidade, o sujeito cordelista continua a escrever. Mas, também, de vontade de integração, já que escrevem agora para esse outro, pertencente ao lugar ao qual parece querer pertencer também o cordel.

 

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