A LÍNGUA DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS: IMAGINÁRIO E RESISTÊNCIA
Aluno de Iniciação Científica: Romi Rosane Fischer (Pesquisa voluntária)
Curso: Letras - Português
Orientador: Gesualda Rasia
Departamento: Lingüística, Letras Clássicas e Vernáculas
Setor: Ciências Humanas, Letras e Artes
Palavras-chave: Catadores , imaginário , resistência
Área de Conhecimento: 80100007 - LINGUÍSTICA
Através da AD francesa, pretendo analisar que imaginário de língua está em jogo por parte dos catadores como sujeitos políticos, sua resistência frente à linguagem dos sujeitos do conhecimento formal, entender as contradições e deslizes, qual a posição sujeito por eles representada, que formações discursivas emergem desses discursos, como se atravessam nessa posição outras posições e outras formações discursivas. Há mais de 3 anos inicie meu trabalho com catadores de materiais recicláveis, através do projeto Cataforte, do Ministério do Trabalho e Emprego/SENAES e Fundação Banco do Brasil. O projeto é de apoio a organizações de catadores, sua capacitação para o cooperativismo através dos princípios da economia solidária. Chamou a atenção o processo de empoderamento dos indivíduos a partir do momento em que se entendem como atores não mais invisíveis da sociedade, mas importantes no trabalho que fazem. Pessoas que não tiveram acesso à escola e aos meios letrados rapidamente se sentem seguras para falar sobre seus direitos. Buscarei entender como se dá esse empoderamento, através dos pressupostos da AD. Serão analisados trechos de discursos de catadores, como a fala de uma catadora que se mostrou indignada com a colocação feita por um professor universitário sobre a dificuldade de desenvolver projetos com catadores: "...eu repudio esses 'grandes', sem querer ofender, mas que tratam nossa classe de catadores como se a gente fosse alguma coisa qualquer...";"...façam projeto que a gente entenda o que é que vocês tão perguntando...";"...falem a nossa língua, falem do nosso jeito...". A AD propõe que os textos têm uma história, um lugar social, e têm determinações ideológicas. Os textos têm 'efeito de sentido entre interlocutores' (Pêcheux, 1990: 148). Para a Análise do Discurso, o sujeito do discurso é histórico, social e descentrado. O que define o sujeito é o lugar de onde fala. "O sujeito de linguagem é descentrado, pois é afetado pelo real da língua e pelo real da história, não tendo o controle sobre o modo como elas o afetam" (ORLANDI, 2005, p. 20). É afetado pela ideologia e pelo inconsciente, não está alienado do mundo que o cerca e é um sujeito social porque apreendido num espaço coletivo, não mais individual. O sujeito da AD é "um sujeito discursivo, que deve ser considerado sempre como um ser social, apreendido em um espaço coletivo" (FERNANDES, 2005, p. 33). Nesse sentido, a fala dos catadores será analisada como representativa do seu grupo social. A análise considera os jogos de força presentes na materialidade linguística.