NORMAL, PATOLÓGICO, SAÚDE E DOENÇA: UMA REFLEXÃO SOBRE A PSICOPATOLOGIA A PARTIR DE GEORGES CANGUILHEM
Aluno de Iniciação Científica: Vanessa Carvalho de Souza Leal (PET)
Curso: Psicologia
Orientador: Adriano Furtado Holanda
Departamento: Psicologia
Setor: Ciências Humanas, Letras e Artes
Palavras-chave: Saúde , Doença , Canguilhem
Área de Conhecimento: 70700001 - PSICOLOGIA
Na sociedade ocidental, podemos observar que a partir do século XVII o tratamento dispensado ao doente mental é marcado por processos de exclusão social fundados em discursos médicos. Tais processos de exclusão foram duramente criticados a partir da segunda metade do século XX; atualmente, as políticas públicas brasileiras de saúde mental se caracterizam pela reforma psiquiátrica e a busca por serviços alternativos à internação psiquiátrica. Considerando as atuais discussões acerca do tema, a presente pesquisa tem como objetivo realizar uma reflexão crítica acerca da psicopatologia, a partir dos conceitos de saúde, doença, normal e patológico, tal como são definidos na obra de Georges Canguilhem e como são utilizados pela psicopatologia tradicional, considerando também as implicações políticas da forma como esses conceitos são definidos e utilizados. Canguilhem – uma obra clássica, O Normal e o Patológico, obra de 1966 – afirma a diferença qualitativa entre saúde e doença, baseando-se na percepção do doente sobre sua situação; consequentemente, a norma em questão é uma norma individual. O autor define saúde como uma disposição em relação às doenças; dessa forma, saúde é a possibilidade de criar e se adaptar a novas normas, de ultrapassar a norma que define o normal momentâneo e de tolerar infrações a essa norma. Canguilhem se opõe à ideia de identificar o patológico com o inadaptado social, pois não há continuidade e coesão entre os órgãos sociais como há entre os órgãos de um organismo. Assim, é impossível julgar patológico o indivíduo que não segue a norma social da mesma forma que se julga patológico o órgão que não segue a norma biológicas. Considerando os documentos mais utilizados para o diagnóstico psiquiátrico – o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) e a Classificação Internacional de Doenças (CID) –, observamos que apesar de ambos possuírem instrumentos para considerar as consequências e o contexto da doença, tais instrumentos são pouco utilizadas pelos clínicos, o que faz com que o diagnóstico seja geralmente baseado no quadro sintomático apresentado pelo paciente. Dessa forma, trata-se de uma definição de saúde que considera os fenômenos patológicos em si. O diagnóstico baseado apenas nos sintomas, sem considerar o contexto e consequências desse quadro, possibilita a instauração de uma norma absoluta de saúde que, no caso dos seres humanos e especificamente das doenças mentais, naturaliza e torna absoluta as normas sociais.