AS RELAÇÕES ENTRE LUANDA E SUA HINTERLÂNDIA (1799-1848): RELATOS SOBRE DOENÇAS E PROCESSOS DE ESCRAVIZAÇÃO

Aluno de Iniciação Científica: Felipe Pires Vilas Bôas (PIBIC/Fundação Araucária)
Curso: História - Bacharelado
Orientador: Carlos Alberto Medeiros Lima
Departamento: História
Setor: Ciências Humanas, Letras e Artes
Palavras-chave: Luanda , Hinterlândia , Tráfico de escravos
Área de Conhecimento: 70503001 - HISTÓRIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA

Os estudos relativos a história da África compõem um fragmento muito diminuto do saber histórico em vistas de outros campos cognitivos da história. Estudos mais pertinentes sobre a África começam a surgir nos anos de 1970 e 1980, especialmente no tocante as interpretações relativas aos processos escravagistas e o tráfico de escravos que ligou África, América e Europa em uma complexa rede de relações sociais, culturais, políticas e econômicas. A interação entre europeus e africanos no período pré-colonial, apesar de seus limites, tem sido altamente enfatizada pela historiografia. Paul Lovejoy e Claude Mellaissoux enfatizam o impacto que o tráfico exerceu sobre a formação social das sociedades africanas. José Venâncio chama a atenção para o papel dos afro-europeus nos processos históricos ocorridos em Luanda. Joseph Miller quando se refere ao tráfico além de fazer menção a entrada de armamentos e cultivos europeus e americanos, milho e mandioca, em função do tráfico de escravos, análise a aceleração de um processo de militarização das sociedades africanas, usando a herança Imbangala como exemplo. Neste viés de inflexão propomos aqui capturar aspectos da relação entre Luanda e sua hinterlândia no período de 1799-1848. Para tal, lançamos mão de dois relatos de luso-brasileiros envolvendo a cidade de Luanda. Com Ensaio sobre algumas enfermidades d'Angola (1799) de José Pinto de Azeredo, pretendemos isolar elementos que permitam avaliar a permeabilidade da cidade, às doenças e às práticas curativas das sociedades locais. Em Demonstração geográfica e política do território português na Guiné inferior (1848) de Joaquim Antonio Carvalho e Menezes, isolam-se relatos de processos de escravização na época da ilegalidade do tráfico de cativos para o Brasil, pois esses processos acionavam a questões de jurisdição, costume, e relacionamento com autoridades locais. O estudo da relação entre Luanda e sua hinterlândia por meio dos relatos suscitou algumas questões como: em que grau a jurisdição de autoridades portuguesas atingia as sociedades circundantes? Normas mantidas no interior do mundo português tinham vigência entre lusitanos em circulação fora da cidade? Costumes das sociedades africanas adentravam a cidade? Contextualizados com substancial embasamento bibliográfico, os relatos que a primeiro momento pareciam lacônicos tornaram-se importantes para o entendimento das relações entre portugueses e africanos no limiar da fronteira entre Luanda e o universo africano, sua hinterlândia.

 

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