PROSTITUIÇÃO NA ROMA ANTIGA: UM ESTUDO DAS MARGENS

Aluno de Iniciação Científica: Flávia Martins da Silva (Pesquisa voluntária)
Curso: História
Orientador: Renata Senna Garraffoni
Departamento: História
Setor: Ciências Humanas, Letras e Artes
Palavras-chave: Satyricon , Prostituição , Historiografia
Área de Conhecimento: 70502005 - HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

Escrito no início do século I d. C, o Satyricon é um romance controverso. Pouco se sabe sobre a intenção de Petrônio ao escrevê-lo, se é uma reação à 'degradação moral' de sua época ou um retrato do submundo romano durante o governo de Nero. Para analisá-lo é preciso levar em conta que o romance não está completo e, portanto, o que temos acesso na modernidade é uma compilação de episódios, muitas vezes entrecortados, que narram as aventuras de três companheiros numa Roma exageradamente caótica. Tendo iniciado o trabalho no edital de 2011 como voluntária, nossa pesquisa ainda está em andamento e tem por objetivo perceber os usos feitos pela historiografia do romance de Petrônio. Partindo da descrição do submundo romano e a prostituição presentes na obra, procuramos discutir como a historiografia "dividiu" o Império Romano em duas faces opostas: uma Roma grandiosa e exemplar, representadas pelos personagens masculinos, e uma Roma decadente e imoral em contraposição à ascensão do cristianismo. O conservadorismo oitocentista e do início do século XX classificou os romanos em pares de oposições binárias que perduraram até poucas décadas atrás. Tal perspectiva é bastante clara quando buscamos analisar o lugar da prostituição nessa historiografia. Em muitas obras sobre a Antiguidade Clássica, a figura da prostituta aparece como contraponto imediato à matrona, mulher virtuosa e ligada à família, símbolo de moralidade, respeito à unidade familiar e à condição de inferioridade em relação aos homens. A partir dessa oposição prostituta/matrona, fizemos o levantamento de uma bibliografia composta por elementos da historiografia de diferentes períodos para pensar como as mulheres romanas foram delineadas pela modernidade e as implicações políticas desses discursos. Deve-se destacar a base de nossa metodologia é interdisciplinar e buscou um diálogo entre história e literatura para uma analise mais ampla do Satyricon e dos papéis femininos descritos por Petrônio. A partir do cruzamento das informações reunidas com a fonte, percebemos que, na maioria dos casos, a historiografia resgata passagens isoladas do Satyricon para ilustrar um discurso normativo masculino e construir um passado romano decadente e imoral. Notamos também que, nas últimas décadas, a historiografia vem se desenvolvendo no sentido de construir análises mais plurais que escapem as oposições binárias e produza outras interpretações sobre as mulheres romanas e, nesse sentido, a sátira de Petrônio é um rico campo a ser explorado a partir de novas perspectivas de gênero ou da história Cultural.

 

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