"NÃO PODE HAVER HOMEM NEM MULHER": IDENTIDADE E GÊNERO DURANTE O CRISTIANISMO PRIMITIVO
Aluno de Iniciação Científica: Emerson Robson Aparecido Silva (PIBIC/Fundação Araucária)
Curso: História - Bacharelado
Orientador: Renata Senna Garraffoni
Departamento: História
Setor: Ciências Humanas, Letras e Artes
Palavras-chave: Novo Testamento , Paulo de Tarso , Gênero
Área de Conhecimento: 70502005 - HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL
Paulo de Tarso, um judeu com cidadania romana, teria percorrido o Mediterrâneo em meados do século I pregando uma nova seita judaica, uma das bases para aquilo que hoje conhecemos como Cristianismo. Seus escritos compõe parte substancial do Novo Testamento da Bíblia cristã, e assumem proeminência crescente nos debates acerca do papel da mulher na Igreja. A presente pesquisa é continuidade de um primeiro levantamento sobre a identidade da mulher nos escritos atribuídos a Paulo, cuja conclusão foi por uma pluralidade das representações femininas naqueles textos, a saber: a fêmea (em relação ao macho/homem), a esposa (em relação ao marido) e a colaboradora devota (em relação a comunidade dos fiéis). O objetivo da atual pesquisa foi estudar um escrito mais específico do autor (no caso, a Primeira Epístola aos Coríntios), com a finalidade de investigar se essa pluralidade poderia ser averiguada num contexto menos amplo. A bibliografia analisada procurou relacionar questões de gênero com investigações históricas e teológicas do proto-cristianismo. O material básico para pesquisa foi o Novo Testamento Grego, com recorte na Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, que foi analisada numa perspectiva metodológica multidisciplinar. Os resultados incluem o estudo de três perícopes da Epístola (capítulos 7; 11:3-16 e 14:13-34), comparando o discurso paulino acerca da mulher, aparentemente contraditório considerando as passagens isoladamente. A discussão dos resultados, relacionando tanto a bibliografia analisada quanto a pesquisa preliminar, reforça o caráter pluralista das representações femininas em Paulo, uma vez que as contradições só se sustentam se esperarmos no texto uma concepção monolítica do papel das mulheres na comunidade proto-cristã de Corinto. No capítulo 7 discutem-se questões como sexualidade e noivado, que se relacionam com outros escritos paulinos acerca da condição da mulher; o capítulo 11 permite que elas participem das orações da comunidade, desde que mantenham a cabeça coberta por um véu, mas o 14 as proíbe de ensinar ou mesmo tomar parte como audiência no ensino das assembleias proto-cristãs. A leitura dessas passagens à luz das questões de gênero evidencia que a mulher, no contexto do cristianismo do século I, era tratada de acordo com a diversidade de suas posições numa sociedade dinâmica. A conclusão, portanto, é que o texto paulino, longe de representar a mulher de maneira estática e normativa, trata de questões pontuais relacionadas a demandas das próprias mulheres nas comunidades que viviam.