APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS ENTRE A PRÁTICA DA CAPOEIRA E O ESTADO NACIONAL: UM OLHAR HISTÓRICO-ANTROPOLÓGICO

Aluno de Iniciação Científica: Magda Luiza Mascarello (PIBIC/UFPR-TN)
Curso: Ciências Sociais
Orientador: Liliana Porto
Colaborador: Ariana Rodrigues Guides
Departamento: Antropologia
Setor: Ciências Humanas, Letras e Artes
Palavras-chave: Capoeira , História , Estado
Área de Conhecimento: 70300003 - ANTROPOLOGIA

O objeto de reflexão deste relatório são as aproximações e distanciamentos na relação entre capoeira e estado nacional e as significações possíveis que delas emergem ao longo da história até o registro da prática como Patrimônio Cultural Nacional, realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2008 em seu duplo aspecto: a roda de capoeira e o ofício dos mestres. O objetivo principal consiste em apreender tais relações e as imbricações que estas estabelecem com representações sobre a população negra no país e suas práticas culturais, em diálogo constante com projetos de formação de um ideário da nação brasileira, bem como as significações que dele emergem e as transformações pelas quais passou ao longo da história. Para isso, a metodologia adotada foi a realização de uma investigação histórico-antropológica sobre a capoeira no país, em conjunturas específicas de sua relação com o estado, à luz do registro de memória de mestres de capoeira no contexto singular da cidade de Curitiba realizadas na etapa anterior da pesquisa, especialmente nas questões por eles levantadas sobre o recente registro da prática realizado pelo IPHAN. Trata-se de uma reflexão sobre o universo social e cultural da capoeira desde o final do século XIX - onde esta é pensada não somente como uma prática de resistência escrava, mas também como uma forma de leitura do espaço urbano, de constituição de identidade grupal e de afirmação pessoal na luta pela vida, acessada como instrumento decisivo do conflito dentro da própria população cativa - bem como uma retomada das históricas repressões policiais anteriores e contemporâneas ao período republicano onde os capoeiristas ora eram alvo de cobiça das autoridades e das diligências de recrutamento para as tropas militares como no caso da Guerra do Paraguai, ora perseguidos pela polícia, tidos como marginais e criminosos; e também elementos históricos mais recentes que resultaram em seu registro como patrimônio cultural nacional. Destaca-se, portanto, movimentos históricos que ajudam a entender o lento processo de valorização cultural da capoeira e sua complexa passagem de crime a símbolo de identidade nacional. Processos estes que passaram por momentos de intensificação de processos de higienização dos centros urbanos, sinônimo de retirada de negros das ruas e a criminalização de suas práticas culturais, e outros de certa reafricanização dos costumes que resultaram em valorizações da prática. 

 

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