A RELAÇÃO ENTRE VIVÊNCIA E OBJETO INTENCIONAL NAS INVESTIGAÇÕES LÓGICAS

Aluno de Iniciação Científica: Marcos Sirineu Kondageski (PET)
Curso: Filosofia (Bacharelado com Licenciatura Plena)
Orientador: Luiz Damon Santos Moutinho
Departamento: Filosofia
Setor: Ciências Humanas, Letras e Artes
Palavras-chave: Husserl , Brentano , objeto intencional
Área de Conhecimento: 70101000 - HISTÓRIA DA FILOSOFIA

Um dos propósitos de Edmund Husserl nas Investigações Lógicas é o de delimitar uma região de imanência da consciência,contraposta à transcendência do objeto. O âmago dessa tarefa consiste em caracterizar descritivamente a região da consciência como um âmbito puro de vivências, que não encerra em si nenhuma objetividade e que nem sequer necessita dum ego puro para lhe dar unidade. As vivências intencionais, únicas realmente (reell) imanentes à consciência, são atos que intencionam um objeto, que visam algo segundo uma determinada intenção (por exemplo, o ato de representação visa o objeto representado, o ato de ódio visa o objeto odiado, etc.), mas elas próprias não contêm em si nada de objetivo, isto é, o objeto que as vivências intencionais visam as transcende. Husserl opera com isso um corte nítido entre a imanência dos vividos de consciência (dos atos de consciência) e a transcendência do objeto apenas intencionado pelas vivências. Assim, Husserl se contrapõe decididamente ao seu antigo mestre, Brentano, que em Psicologia do Ponto de Vista Empírico havia caracterizado o ato psíquico intencional como contendo em si a objetividade a que se volta; isto é, que havia afirmado, contrariamente a Husserl, uma objetividade imanente. Porém, se a operação de um corte profundo separando vivência e objetividade aparece para solucionar algumas dificuldades essenciais à doutrina de Brentano (e será uma das tarefas da presente pesquisa apontar para essas dificuldades e compreender em que medida as soluções de Husserl vêm a calhar), Husserl arranja para si uma série de outras dificuldades: depois de operado esse corte, como compreender a relação entre a vivência intencional e a objetividade intencionada? Como fundamentar a relação entre imanência e transcendência – fundamentação esta que deve garantir que a consciência não seja concebida como uma "ilha incomunicável" – tendo como pano de fundo essa separação absoluta? Como a vivência de consciência pode se referir objetivamente a algo, isto é, voltar-se efetivamente a algo (ao objeto) cuja "natureza" é inteiramente distinta? Enfim: como descrever essa relação entre duas coisas inteiramente distintas e separadas (e isso, sem lançar mão da doutrina da representação dos modernos, tão malquista por Husserl)? Nosso propósito principal, nesse sentido, é de, lançando mão apenas dos elementos teóricos fornecidos por Husserl até o texto das Investigações Lógicas (primeira edição, de 1900-1901), proceder a uma tentativa de solução das questões apontadas.

 

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