Aluno de Iniciação Científica: Luiz Francisco Garcia Lavanholi (PIBIC/UFPR-TN)
Curso: Filosofia (Bacharelado com Licenciatura Plena)
Orientador: Vivianne de Castilho Moreira
Departamento: Filosofia
Setor: Ciências Humanas, Letras e Artes
Palavras-chave: ações humanas , arte e virtude , eudaimonia
Área de Conhecimento: 70101000 - HISTÓRIA DA FILOSOFIA
A teoria aristotélica da ação, assim como a maior parte das teorias aristotélicas, não é ponto pacífico. Há uma diversidade de comentadores que sustentam miríades de interpretações diferentes. Dentre as interpretações contemporâneas, a de John Ackrill parece ter indicado alguns dos maiores problemas acerca da coerência da teoria da ação. Segundo o comentador britânico, as declarações de Aristóteles sobre ação e escolha na Ética Nicomaqueia (doravante EN) "parecem envolver sérias inconsistências – e em tópicos centrais para a ética e para sua Ética" (Aristotle on Action, p. 595). Essas inconsistências se dariam, principalmente, pela ausência de uma definição precisa do conceito de ação. Afinal, a relação entre eudaimonia (o fim último da vida humana, objeto de investigação na EN) e ação virtuosa, é constitutiva. Isto é, a eudaimonia é um tipo de vida que se constitui, nas palavras de Aristóteles, por "atividades ou ações da alma que implicam um princípio racional"(EN I 7 1098 a12-14). Ackrill aponta que não é possível distinguir ações de produções no texto aristotélico (Aristotle on Action, p.596). Ademais, sempre segundo Ackrill, Aristóteles não teria conseguido responder as questões "o que é a ação?" e "o que é uma ação?" (Idem, p. 601). Os problemas levantados por esses dois apontamentos são problemas fundamentais que comprometeriam toda teoria aristotélica da ação. Se Aristóteles não definiu o que é ação, não temos como saber o que realmente seria eudaimonia e nem como poderíamos obtê-la. Se Aristóteles não diferenciou ação de produção, tem-se uma inconsistência na definição de eudaimonia. Pois uma produção é um tipo de realização humana executado para obtenção de algo diferente da própria realização (EN VI 4 a 6-11); e a eudaimonia, como fim último da vida humana, deve sempre ser buscada por si mesma (EN I 7, 1097 b1-5). Ora, se ações são indistinguíveis de produções, e se a eudaimonia é constituída por ações, então a eudaimonia é o conjunto de realizações feito em vista de outra coisa, o que seria contraditório. No entanto, há passagens do texto aristotélico que parecem enfraquecer a tese de Ackrill respaldando a suspeita de que Aristóteles teria procedido a uma distinção rigorosa entre ações e produções, a partir da qual seria possível responder à questão "o que é a ação?". O objetivo da pesquisa proposta aqui é examinar o texto de EN, nos detendo em II 4 onde são apresentadas as excelências da ação e da produção, respectivamente virtude (areté) e arte (téchne), a fim de aquilatar se realmente há dificuldades para a doutrina aristotélica da ação.