STENDHAL, ADORNO E O "HOMEM CÓPIA", O INDIVÍDUO ANULADO EM MEIO À BARBÁRIE ORGANIZADA
Aluno de Iniciação Científica: Daniclei Pereira Alves (PIBIC/CNPq)
Curso: Filosofia (Bacharelado com Licenciatura Plena)
Orientador: Paulo Vieira Neto
Departamento: Filosofia
Setor: Ciências Humanas, Letras e Artes
Palavras-chave: Adorno , Indivíduo , Stendhal
Área de Conhecimento: 70100004 - FILOSOFIA
A indústria cultural, fenômeno de barbárie sutil, é a realização irônica do intento kantiano de cultura. Ao invés de cultivar espíritos, cultiva autômatos enquanto fragmenta a personalidade dos clientes no "processo social que transforma a cultura em bem de consumo". Destituída de sua função segundo o esclarecimento, de cultivar e propiciar habilidades que propiciem a emancipação, a cultura torna-se um signo linguístico destituído de realidade objetiva, pois o esclarecimento voltado à racionalidade técnica torna a maioria ajustada à servidão. A formação dos valores, sentimentos e subjetividade da maioria da população, neste contexto, depende de esquemas estruturais com a finalidade de avançar no terreno da formação da consciência. O que não se encaixe no idioma instituído pela indústria é de difícil assimilação pelo homem comum. Os meios de comunicação, o ensino e as artes, até o mais banal entretenimento gratuito convergem para o mesmo sistema, funcionando como uma intrincada rede. A cultura da dominação modela caracteres formalmente idênticos, na maioria das vezes, fragmentados em si mesmos. Mais do que uma necessidade logística, a padronização apresenta-se como sustentação de um estado de coisas e método de controle e preservação. Sustentamos que a indústria fornece de antemão, dentro de seu sistema que impossibilita o pensar dos ajustados, o "esquematismo da produção". Arquétipos moldados segundo interesses da indústria são sistematicamente apresentados à cognição de forma a criar um ideal a ser seguido. A noção de indivíduo fica, portanto, comprometida diante da massificação da consciência. Este movimento da indústria cultural já estava contido "em embrião nos mercados de bens culturais que surge na alta modernidade". Discorreremos sobre estes movimentos, para, sob a ótica dos conceitos de Adorno, investigar aspectos da gênese da configuração social que "une o singular ao universal neste maquinário de padronização". Para tal, utilizaremos a obra "O Vermelho e o Negro" considerada "um espelho da sociedade". Pretendemos fazer uma ligação entre a reflexão de Adorno e a expressão da obra de Stendhal, que chamou ao indivíduo ilusório de "homem-cópia" e, atento aos acontecimentos de sua época, propunha que em certos contextos culturais, poderia se "falsear a sensação na alma do espectador". Portanto, quais as características sociais e psicológicas da individualidade anulada? Quais as correlações entre o pensamento de ambos os autores sobre a atuação do contexto em relação ao indivíduo no que diz respeito à formação da subjetividade? Há resistência possível?