O NOVO ESPÍRITO DO CAPITALISMO: GLOBALIZAÇÃO, IDEOLOGIA E DIREITO

Aluno de Iniciação Científica: Guilherme Milkevicz (PIBIC/CNPq)
Curso: Direito
Orientador: Abili Lázaro Castro de Lima
Departamento: Direito Público
Setor: Ciências Jurídicas
Palavras-chave: globalização , ideologia , direito
Área de Conhecimento: 60101075 - SOCIOLOGIA JURÍDICA

Este estudo parte, sobretudo, da obra O novo espírito do capitalismo de Luc Boltanski e Ève Chiapello, bem como dos estudos críticos sobre ideologia do filósofo esloveno Slavoj Žižek. O escopo é analisar a influência do discurso pretensamente "científico" que oculta o caráter político das decisões econômicas e teorias neoliberais, tendo em vista que o neoliberalismo é apregoado como a Ciência Econômica por excelência, desprovida de ideologia (ou pós-ideológica). O neoliberalismo é o "Fim da História" no discurso econômico. Importa lembrar a distinção freudiana entre conteúdo manifesto do sonho e pensamento onírico latente: o primeiro representa uma condensação imagética repleta de lacunas e deslocamentos que impedem a apreensão do que subjaz essa linguagem manifesta. Indagamos em que medida essa compreensão psicanalítica do sonho também é pertinente ao discurso (ou ideologia) neoliberal: narrativa fragmentada, técnica e que reduz a complexidade de causas e efeitos da vida em sociedade a números que, na forma como são apresentados, são absolutamente intangíveis a quase toda população. Ao mesmo tempo, essa inacessibilidade popular serve de discurso para legitimar a redução dos espaços públicos deliberativos de democracia direta ou mesmo indireta, já que não cabe ao povo pautar temas de especialistas. Concomitantemente, o direito revela-se incapaz de ser o protetor da democracia – entendida a partir de suas raízes: o poder deliberativo do povo. É imprescindível acrescentar que o discurso pretensamente racionalizante do neoliberalismo se coloca como mais um baluarte de desencantamento do mundo. Apresenta-se como "clareza e distinção" (para rememorarmos a percepção cartesiana de verdade), como previsibilidade e calculabilidade. Portanto, importa-nos lembrar que todo desencantamento do mundo é, na verdade, um reencantamento do mundo – nesse caso, sob a forma "científica".

 

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