ECOLOGIA ALIMENTAR DO BOTO-CINZA, SOTALIA GUIANENSIS (VAN BÉNÉDEN, 1864) (CETARTIODACTYLA, DELPHINIDAE) NO LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ
Aluno de Iniciação Científica: Gilberto Oliveira Endoh Ougo (IC-Voluntária)
Curso: Oceanografia - Pontal do Paraná
Orientador: Camila Domit
Departamento: Centro de Estudos do Mar
Setor: Ciências da Terra
Palavras-chave: cetáceos , dieta , Paraná
Área de Conhecimento: 10801006 - OCEANOGRAFIA BIOLÓGICA
Compreender a dinâmica presa-predador é de extrema importância para estudar a ecologia de uma espécie, seu comportamento e padrões de distribuição. Desta forma, este estudo analisa a dieta do boto-cinza (Sotalia guianensis), possíveis variações sazonais, e integrará estas informações à distribuição e disponibilidade de recursos alimentares no litoral paranaense. Entre 2007 e 2012 foi coletado o trato digestório de animais encalhados mortos ou capturados incidentalmente em redes de pesca. Itens resistentes às ações gástricas, como otólitos de teleósteos, bicos de cefalópodes e exoesqueletos de crustáceos, foram triados, separados para identificação e conservados à seco, em álcool 70% e em solução de álcool 70% e glicerina, respectivamente. Foram analisados 35 estômagos, sendo que 25 (71%) apresentaram conteúdo estomacal. Destes, oito (32%) eram fêmeas, 15 (60%) machos e dois (8%) indivíduos que não tiveram o sexo identificado. Quanto aos estágios de maturidade, cinco eram juvenis (20%) e 18 adultos (72%), sendo os animais encontrados principalmente nas estações chuvosas (68%). Foram identificadas presas pelágicas e demersais, com predominância de Micropogonias furnieri (22%), Cetengraulis edentulus (17%) e Pellona harroweri (11%). Considerando todas as espécies registradas na dieta, o boto-cinza é ictiófago, utilizando regiões estuarinas e costeiras como áreas de alimentação e predando por toda a coluna da água. Não houve diferenças significativas nas dietas entre os sexos, classes de maturidade e sazonalidade. Apesar dos adultos apresentarem uma dieta com maior diversidade, a dimensão das presas parece ser a principal característica que determina os padrões de alimentação quanto aos estágios de maturação. As espécies Paralonchurus brasiliensis, Isopisthus parvipinnis e Citharichthys sp. foram exclusivas de fêmeas enquanto os espécimes machos ingeriram exclusivamente Genidens sp., Mugil sp., Larimus breviceps e Lycemgraulis sp.. Os dados deste estudo sugerem que machos utilizam uma área de alimentação maior que fêmeas, uma vez que as presas exclusivas de machos apresentam hábitos pelágicos e demersais, ocorrendo tanto em regiões estuarinas quanto costeiras. As presas ingeridas somente pelas fêmeas são demersais e, com exceção de P. brasiliensis, freqüentam o estuário durante toda a fase de vida. Esta diferença provavelmente está relacionada a necessidade de poupar energia, a qual precisa ser dispensada aos filhotes. Este estudo foi o primeiro a registrar a presença de Anisotremus sp., Genidens sp. e Centropomus sp. na dieta da população estudada.