Realizamos adaptação em linguagem audiovisual das lendas do Pé de Guanandi e da Mulher de Branco com os estudantes de ensino médio do Colégio Estadual Ilha Rasa e Colégio Estadual Ilha das Peças, respectivamente, do município de Guaraqueçaba, litoral do Paraná. A partir de relatos orais de membros de diferentes faixas etárias das comunidades tradicionais, coletados entre os meses de fevereiro/março de 2012, geraram-se roteiros para a ficcionalização em vídeo das narrativas míticas. Na confecção do roteiro, optou-se por intercalar os relatos com imagens ficcionais, que permitissem ao espectador compartilhar do que seria uma aparição e/ou assombração, utilizando recursos específicos de edição como fade in e fade out, filtros de cor e efeitos de áudio. A imagem da mulher de branco foi captada a partir de ângulos diversos, fechados e circulares, facilitando a visão fragmentada, nebulosa e enuviada, próximas do que para o imaginário do grupo pudesse sintetizar a ideia de aparição e assombração. Pela primeira vez, na história das comunidades, foram criadas imagens em linguagem de vídeo, que pudessem dar forma e visibilidade às lendas, calcificando-as de vez na cultura local, dando-lhe um caráter de permanência ressignificada. Após a finalização da edição, foram exibidos os curta-metragens de cerca de 10min para as comunidades, o que gerou a última etapa do trabalho, que era o de propiciar estudos de recepção. Uma série de argumentos reforçam a pertinência do mito e os seus previsíveis deslizamentos de sentidos, no que se refere à confluência de repertórios dos diversos sujeitos envolvidos no processo – estudantes, professores e membros das comunidades, de um lado, e o professor e os licenciandos da UFPR Litoral, de outro. Não se concebe o mito enquanto mentira e ficção, mas sim enquanto discurso, narrativa produzida pela cultura oral, já calcificada na cultura tradicional e que assume um caráter de permanência. Evidenciam-se os processos inferenciais sobre o mito no repertório dos acadêmicos, assim como os resultados das imagens editadas sintetizam a aglutinação das ideias dos dois nichos em interação – o da comunidade tradicional e o da comunidade acadêmica, sendo que a segunda inferiu sobre os enunciados da primeira, permitindo a livre adaptação para linguagens audiovisuais do que era originalmente verbal e oral.