A apropriação (oikeiôsis), para os estóicos, consiste em um dispositivo natural que compartilhamos com os animais irracionais. A oikeiôsis
tem como efeito primeiramente o amor em relação a si e posteriormente em relação ao outro, sendo assim, ela é responsável por desencadear
a convivência harmônica em comunidade. A apropriação, no estoicismo, ressalta a continuidade existente na natureza no que tange aos
animais irracionais e racionais, já que é entendida como um ponto de contato entre essas duas partes. A partir da teoria da apropriação
somos capazes de compreender a unidade do cosmos estóico e, com isso, perceber que a felicidade, a qual é definida como viver “de acordo
com a sua própria natureza e a natureza do todo” (Epíteto – Diss. I.6.12-22), possui a oikeiôsis como um de seus elementos constitutivos,
pois ser feliz é o mesmo que agir em concordância com a razão e, nesse sentido, com a continuidade da natureza. A intenção, portanto, é
a de compreender qual é o significado da oikeiôsis, para os estóicos, através da apresentação do mecanismo deste dispositivo natural nos
animais e nos homens a fim de tratar a maneira pela qual a oikeiôsis incita, no caso dos homens e de alguns animais, a convivência em
comunidade. Além disso, serão pontuadas as diferentes formas de manifestação da apropriação dentre o gênero animal a fim de ressaltar
um aspecto que evidencia a engenhosidade da natureza, já que esta vincula aos entes oikeiôseis cuja amplitude varia de acordo com as
necessidades e finalidades dos animais. Por fim, será abordada a influência da oikeiôsis sobre a moralidade humana, ou seja, a pretensão é
a de explicar como a teoria estóica da apropriação permite defender que a noção de comunidade, parâmetro do comportamento virtuoso,
estende-se para além dos homens. A pesquisa se desenvolveu a partir da análise histórica do termo oikeiôsis, a qual permitiu concluir que
a melhor tradução para esta palavra é apropriação e não afinidade, tal como proposto no início da investigação acerca do estoicismo.
Com efeito, o termo afinidade sentimentaliza a idéia da oikeiôsis e, desse modo, se distancia do significado que tal substantivo possui na
Stoá. A oikeiôsis denota o processo da psyché, no qual ela se coloca em relação com algo. Portanto, essa palavra significa, no estoicismo,
um movimento subjetivo de apropriação de si, do outro ou de externos. Além disso, a pesquisa se baseou na leitura de autores do período
helenístico, tal como Hierocles Stoicus, Cícero e Epíteto, os quais são fontes que permitem o acesso à teoria estóica da apropriação.
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